Fui contratado pelo então presidente da VALEC (Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.) para aprofundar o estudo de viabilidade da Ferrovia Norte-Sul. O motivo: levar um material sólido a uma CPI, pois o que existia era considerado insuficiente.
Para balizar a análise, chamei um especialista (aposentado da RFFSA) em planejamento ferroviário. Depois de semanas, o veredito, com os parâmetros de concentração de cargas disponíveis à época, foi claro: a ferrovia isolada era inviável.
A inflexão veio do artigo clássico de Theodore Levitt, Marketing Myopia (Harvard Business Review): o erro das antigas ferrovias nos EUA foi se enxergarem como “trilhos, locomotivas e vagões”, e não como “solução de transporte”.
Levei esse princípio para o caso brasileiro: o ativo não é a via; é o ecossistema de transporte.
Desenhei uma empresa transportadora multimodal e um modelo informatizado de simulações capaz de medir resultados econômicos em múltiplos cenários. O escopo integrava:
Grãos (Itaqui/MA): estimular o potencial da grande pradaria na área de influência do Porto do Itaqui, com serviço ferroviário para escoamento.
Minério de ferro: ramais ferroviários levando cargas pesadas até o eixo central da Norte-Sul.
Consolidação por caminhões (first mile): concentração de cargas diversas na malha da ferrovia — avaliando frota própria, terceirizada e autônomos.
Distribuição por caminhões (last mile): entrega final multimodal, completando o serviço porta-a-porta.
Resultado das simulações: o negócio multimodal fechava a conta — viável e passível de financiamento a custos de mercado.
Apresentei os resultados à Diretoria da VALEC, ao Ministério dos Transportes e a lideranças do agronegócio. O consenso nas reuniões foi de viabilidade econômica do modelo intermodal proposto.
Naquele período observava-se uma corrida por terras na pradaria da região de Itaqui, impulsionada por imagens de satélite e pela planicidade (campo aberto à mecanização pesada) — um ecomapa perfeito para grãos + ferrovia.
Por razões políticas e falta de visão empresarial, a Empresa Transportadora Multimodal não foi implantada. A Norte-Sul seguiu aos trancos e barrancos, arrastando-se por décadas, com dificuldades recorrentes de financiamento.
O custo de oportunidade dessa postergação — para a logística e para o PIB — foi, plausivelmente, enorme.
Infra por si só não garante viabilidade: modelo de negócio e cadeia logística importam.
Pensar multimodal — ferrovia + rodovia + terminais — multiplica demanda, dilui riscos e atrai capital.
Consultoria estratégica consistente antecipa problemas políticos/operacionais e encurta o tempo de maturação.
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