A Muriel Cosméticos, tradicional fabricante paulista com forte presença nacional e expressiva penetração no mercado nordestino, enfrentava um momento de profunda instabilidade quando fui convidado a atuar de forma consultiva.
Após décadas de trajetória consolidada, a empresa decidiu expandir sua planta industrial em São Paulo, projetando um crescimento acelerado e o lançamento de novas linhas — entre elas, uma inovadora linha de produtos voltada à mulher negra, segmento de alto potencial no mercado brasileiro.
No entanto, o financiamento de longo prazo necessário à expansão não se concretizou.
A administração então recorreu a recursos originalmente destinados ao capital de giro, o que comprometeu a liquidez da empresa e precipitou um desequilíbrio financeiro de grandes proporções.
O quadro agravou-se com descompassos técnicos e operacionais na nova planta, cujas linhas produtivas mostraram-se desbalanceadas e ineficientes.
O resultado foi uma crise sistêmica que uniu restrição de caixa, baixa eficiência fabril e perda de competitividade — contexto em que a intervenção consultiva independente tornou-se indispensável.
Minha atuação concentrou-se em identificar as causas estruturais da crise e redesenhar o modelo econômico-financeiro da empresa para restabelecer equilíbrio, governança e capacidade de geração de valor.
Para isso desenvolvi um Modelo Econômico-Financeiro Informatizado, que incorporava variáveis industriais, mercadológicas e financeiras, permitindo:
Identificação da Valor Negocial (Valuation) de modo dinâmico da companhia em diferentes cenários de reestruturação;
Simulações interativas do Fluxo de Caixa por Linha de Produto;
Projeções de margens operacionais e capital de giro em horizontes de curto, médio e longo prazos;
Testes de viabilidade de novos lançamentos, incluindo a linha para mulheres negras, dentro de limites de liquidez realistas.
Com base nessas simulações, foram traçados cenários de recuperação, incluindo alternativas de reorganização societária, venda parcial de ativos e racionalização da estrutura industrial.
Entre os caminhos projetados, um mostrou-se particularmente eficaz: a migração operacional da marca e das atividades industriais para uma nova empresa limpa, mantendo o passivo sob a estrutura em Recuperação Judicial — uma estratégia que denomino “troca de pele empresarial”.
Embora o trabalho técnico tenha alcançado um grau elevado de sofisticação, não cheguei a ser formalmente contratado pelo controlador da Muriel Cosméticos.
Minha atuação foi realizada em caráter pro bono, motivada por solidariedade profissional ao meu parceiro estratégico — um advogado empresarial de grande prestígio em São Paulo, com quem havia estruturado uma proposta conjunta de solução para a crise.
A proposta previa que, caso a aquisição da empresa fosse aceita, ele atuaria nos aspectos jurídicos e de Recuperação Judicial, área em que possui ampla experiência, enquanto eu conduziria a gestão e a reestruturação operacional da nova estrutura empresarial.
Apesar da recusa do controlador, o trabalho técnico que desenvolvi foi integralmente concluído, e as soluções projetadas acabaram por ser, em grande parte, aproveitadas pela própria empresa.
Essa experiência reafirmou o propósito central da minha atuação: aplicar conhecimento técnico, estratégico e de governança para recuperar valor empresarial, independentemente de vínculo contratual ou interesse societário — sempre com ética, isenção e foco no resultado.
Anos depois, os dados públicos confirmaram a adoção dessa mesma estratégia:
A GFG Cosméticos Ltda. (Muriel do Brasil) permanece em Recuperação Judicial (TJSP nº 1000459-10.2025.8.26.0260), com passivo aproximado de R$ 56 milhões;
A operação da marca Muriel segue ativa e comercialmente vigorosa sob a razão Beauty Lab do Brasil Ltda., no mesmo endereço industrial em São Paulo, mantendo presença no varejo e nos distribuidores do Nordeste;
A marca, portanto, preservou-se como ativo econômico e reputacional, enquanto o passivo foi confinado à empresa em RJ, confirmando a efetividade do modelo proposto.
Esse desfecho reafirma a pertinência da metodologia aplicada: planejamento estruturado, modelagem de cenários e governança técnica são fatores determinantes para transformar crises financeiras em oportunidades de reequilíbrio e continuidade empresarial.
A experiência com a Muriel demonstrou que decisões industriais e de expansão mal estruturadas financeiramente podem ser revertidas, desde que conduzidas sob modelos científicos de análise e controle.
O Modelo Econômico-Financeiro Informatizado desenvolvido permitiu visualizar rotas de saída sustentáveis, reduzir riscos de insolvência e proteger ativos intangíveis, como marca e relacionamento comercial.
A “troca de pele” implementada posteriormente tornou-se um exemplo de reengenharia empresarial bem-sucedida, aplicável a outros contextos de crise ou desorganização estrutural — inclusive em empresas com forte apelo de marca e reputação internacional.
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